quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mito da mãe perfeita.

Para quem teve a oportunidade de ler a edição da Revista Veja (20/07/11), pode desfrutar de uma entrevista com Elisabeth Badinter, que é uma das grandes estudiosas da maternidade. Filósofa francesa que fala sobre as pressões das feministas que tem levado as mulheres a deixar sua vida em segundo plano. Ela tenta desconstruir um mito que vem sendo consolidado nas sociedades modernas - o da mãe perfeita. Movidos por ideologistas das mais variadas, feministas, ecologistas e intelectuais que tratam de  sedimentar no caldo cultural do século XXI a idéia de, uma vez mãe, a mulher deve enquadar-se em um modelo único, obedecendo os dogmas que, de tão atrasados, sepultam os avanços mais básicos trazidos, pela industrialização. Segundo Badinter faz menção as pessoas que torcem o nariz para as cesarianas e chegam a fazer apologia do parto sem anestesia, sob o argumento que há beleza no sacrífico feito em nome dos filhos já no primeiro ato. Demonizam o uso de mamadeira, chupeta (este eu acrescento) e até de fralda descartável. Para essas pessoas, as mães nunca devem estar indispostas para suprir as necessidades de sua prole. Essa pressão só causa frustação e culpa nas mulheres. As estatísticas confirmam o que os demógrafos já previam: são principalmente as mulheres mais escolarizadas e egressas dos mais altos estratos de renda que estão tendo menos filhos, ou nenhum, ve nisso um efeito direto de cobrança pela maternidade perfeita. Na iminência de ficarem reféns de tantas exigências sociais, muitas simplismente desistem de se tornar mães. Existe uma lógica bastante clara, que a cobrança por perfeição incide mais sobre a cabeça daquelas mães que encarnam simbolicamente o papel de superpoderosas. Apenas no século XVIII, sob influência do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau com a publicação de Émile (1762) que deu o primeiro e decisivo impulso para a concepção de família fundamentada no amor materno, como é hoje. Nesta época as crianças eram vistas apenas como adultos em miniatura, com pouca ou nenhuma importância na família. Entregues às amas para que as alimentassem e criassem, só voltavam ao convívio dos pais por volta dos 5 anos. Diversos seguidores da filosofia rousseauniana divulgaram e aprofundaram a idéia de que o amor materno não é instintivo, como tantos apregoam, mas sim uma ideia construída. Segundo ela, as mães que põem os interesses e as vontades dos filhos sempre acima dos seus, são vitímas desse equívoco historicamente determinado. Essas mães acreditam que a dedicação incondicional pode ajudar a produzir uma criança perfeita, resultado dos incentivos constantes. Nada mais típico do grande equivoco atual, baseado numa interpretação exagerada da psicanálise, do que as crianças devem ser poupadas de toda e qualquer frustação. Esse excesso costuma pruduzir efeitos colaterais desastrosos - tanto para a mãe como para a criança. Ela se refere a uma condição não rara, onde os filhos tomam o controle das situações e se tornam pequenos tiranos em casa - fenômeno que na França é chamado de I´enfant roi (algo como " a criança é o rei"). De outro lado, causa frustação às mulheres que se colocam sempre em segundo plano. Ela afirma que nem de longe existe uma fórmula ideal para a maternidade e que mesmo as mães deixando seus empregos em função dos filhos, nada lhes garante que não serão plenas por assim o fazer. O que ela aponta é a mulher com expressão vazia enquanto cuidam dos seus filhos nas praças e nos jardins. E que evidentemente elas acreditem que deixando seus filhos, ou que não passem o dia inteiro com eles seriam o de amá-los menos. É natural que o assunto não acabe aqui. É natural que a maternidade varie segundo valores, crenças e culturas familiares de cada mulher. Portanto, o máximo que posso dizer é o que sinaliza a experiência de forma clara: o ponto ideal é aquele em que as mulheres mantenham a equistância entre os próprios desejos e os de seus filhos. Em outras palavras, que alcancem um ponto de equilíbrio em que não fiquem excessivamente próximas a ponto de roubar o espaço necessário ao desenvolvimento das crianças nem tão distantes que pareçam ausentes. As mães são, afinal, referência afetiva e intelectual imprescindível ao filhos. Infelizmente, esse modelo mais harmonioso e livre de tantas cobranças é bem raro no mundo atual, é o que afirma Badinter. Essa matéria é riquíssima, principlamente para os folhetins que facilmente encontramos por ai com o tema de "como ser uma mãe perfeita com 10 dicas básicas"...o assunto é vasto e complexo, mas não podemos nos privar de contestar certas formas construidas e determinadas de como seria o modelo ideal para a maternidade.

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